Fernanda Oliveira

Fernanda Oliveira
ou Tia!

Pesquise aqui também!!

terça-feira, 30 de abril de 2013

Pureza

                 Outro dia estava aqui no meu trabalho. Compenetrada. De repente ouço no corredor uma voz infantil, cantando uma música que eu ouvia na minha infância. Parei e prestei mais atenção - por um momento pensei que fosse um engano - e realmente era aquela que eu ouvia quando tinha a idade dela:


E aquela vozinha foi-se, definhando pelo corredor. Não resisti, cheguei a comentar com a colega do lado:
- Quem será que está cantando esta música? Nossa, eu tô impressionada! Agora quero saber quem está cantando esta música! Eu ouvia quando era pequena!". E fui.
Uma garotinha de pés descalços, porém bem trajada estava brincando sozinha, já rolando pelo chão. Claro que deduzi que poderia ser ela a dona daquela voz, uma vez que não é comum crianças no ambiente de trabalho:
- Oi! 
- Oi! - respondeu meio tímida.
- Você quem estava cantando aquela música? Onde você aprendeu?
- Ah, é a música do Carrossel! - e repetiu a estrofe, cantando.
- Você sabia que quando eu tinha a sua idade eu também cantava essa música? Ela já é bem velha, sabia? Eu fiquei impressionada com você cantando e quis saber quem era! Qual o seu nome?
- Vitória! - falou cabisbaixa, esboçando timidez.
- Nome lindo, Vitória! Pois é! Só quis ver aqui quem era esta cantora! A tia precisa trabalhar agora. Beijos!
Meia hora depois chega Vitória, em minha mesa:
- Você sabia que amanhã é o meu aniversário?
- Sério? Oba, que bom! E quantos aninhos você vai fazer?
- Seis!
- E vai ter bolo? Tem festinha?
- A minha mãe não disse! - e saiu.
No dia seguinte, ouvi as palmas na sala ao lado. Alguém estava ficando mais velho. Ou como dizem os velhos (sempre chatos) clichês, "colhendo mais uma flor no jardim da existência..."
Vitória veio, mais tarde, novamente em minha mesa: 
- Hoje é o meu aniversário!
- Ôbaaaa!!! E a festinha? - deduzi pelas palmas minutos atrás.
- Minha mãe fez uma festinha pra mim com os colegas dela!
- Que bom, Vitória! Então meus parabéns! - levantei-me para um abraço. E Vitória saiu, não antes de me oferecer um pirulito, o que a fez vir até minha sala.
Hoje, do nada, ela chegou. Caladinha. Escondia uma das mãos nas costas. Esticou-a rapidamente e estendeu em minha direção. Trazia primaveras colhidas em algum lugar perto ou cedo, pois estavam viçosas e radiantes. Fiquei emocionada. Levantei-me da cadeira atrás da mesa e a abracei, agradeci e intencionalmente deixei uma marca de batom na face, tipo marquinha que toda criança sonhava à minha época. Prometi conseguir um lugar para colocá-las para que ficassem vivas por mais tempo.

Imagem inline 1

Há pouco ela esteve aqui novamente. Mostrei que tinha posto o presente num "jarro". Novamente - do nada - ela soltou:
- Eu já tô indo pra escolinha! Já  aprendendo as palavrinhas! 
- Sério? E que palavras você já aprendeu?
- Aprendi picolé, chocolate, - comecei a rir - jacaré, jabuti, tartaruga...
- Mas tartaruga é muito dificíl pra você aprender ainda! - interrompi.
- Quando você era pequena você fazia escolinha?
- Sim! Fazia sim!
- Você cantava musiquinha?
- Cantava!
- Você sabia essa música?
"O filhote da coruja
É feinho de doer
(...?)"
- Lembro um pouco dela, mas não sei mais cantar!
Enfim... Vitória começou a cantar, inventar (quando não se lembra a letra) e, do nada, mais uma vez, saiu.

Acabou o expediente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário